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- Chefe, está tudo pronto.
O homem pegou num martelo que estava em cima da mesa. A casa onde estava tinha uma excelente vista para a cidade.
Chamavam a este homem o Prego. Era o miliciano mais temido pelo Inimigo, especialmente porque ele tinha o hábito de atravessar a fronteira e causar destruição cega no território deles. Tinha um grupo enorme de milicianos fanáticos que o seguiam para as missões mais arriscadas.
Nunca alguma tinha sido tão insana como esta. Levou-lhes vários meses de preparação, mas agora estava tudo pronto.
O Sol nasceu.
O Prego nada disse. Entrou num carro e circulou calmamente para o centro da cidade, cidade essa que era a capital do Inimigo. Ouviu uma música alegre na rádio e começou a cantar, exortando os seus companheiros a acompanhá-lo.
Pararam à frente de um edifício com um gradeamento a toda à volta. Era uma escola. O contínuo que cumprimentava os jovens que iam entrando estranhou a paragem do carro. Saíram de lá cinco homens. Estavam fortemente armados. Antes que pudesse dar o alarme já estava encostado contra a grade, pintada agora de vermelho.
O Prego fez uma chamada no telemóvel.
Explosões imensas ouviram-se pela cidade fora. A Milícia do Prego estava à solta no que sabiam ser essencialmente uma missão suicida. Bombas incendiárias detonaram-se nas estações de metro e comboio, hospitais, estações de polícias e de bombeiros, escolas, centros comerciais e qualquer outro sítio que tivesse grande afluência de civis.
Os milicianos tinham passado a noite inteira a matar polícias nas suas casas. Muitos concentravam-se em demolir as esquadras deles para minimizar a resistência imediata.
O pânico era geral. Os cidadãos inocentes tentavam escapulir-se daqueles homens insanos e terríveis que estavam a incendiar tudo à sua passagem.
A capital nunca tinha sido alvo directo na Guerra. Talvez compreendessem agora o que o próprio exército deles estava a fazer ao país que tinham invadido.
- Matem tudo. Queimem tudo. Sem discriminação.
Os milicianos disparavam contra tudo o que se mexesse, inclusive animais. Demoliam edifícios inteiros, quase todos irrelevantes em termos de importância estratégica. Quebraram todas as convenções quando invadiram hospitais cheios de feridos e lançavam granadas para os quartos e corredores apinhados de feridos e doentes indefesos.
Ao longo do dia, a resistência inimiga foi-se organizando. Tentavam proteger a evacuação de civis e aglomeraram-se em pontos estratégicos para este efeito.
- Estou? - berrou o Prego quando o telemóvel tocou. - Fala mais alto!... Sim!... Está bem, dêem-lhes, força! - desligou a chamada e virou-se para os que o acompanhavam, agora apenas dois. - Ponham as máscaras.
Pegaram em granadas de fumo e lançaram-nas para todo o lado, especialmente, se possível, para os aglomerados do Inimigo. O fumo, aparentemente inofensivo, tinha na realidade agentes químicos poderossíssimos e letais para quem os respirasse.
- Estes são os gases que vocês usaram contra nós! Isto é pelo massacre de Carfes, Almujoz e de Vila Xicho! Respirem e morram! Sintam-se a arder por dentro!
A população e os soldados atacados não tinham protecção contra os gases. Alguns milicianos também foram apanhados, pois nem eles sabiam que o Prego iria lançar aquela nuvem mortal.
Centenas e milhares morreram, pois as nuvens propagavam-se rapidamente pela cidade ventosa.
A força militar do Prego era impressionante para uma milícia. Dizia-se que tinha mais de mil homens, sem contar com outros grupos separados que se juntaram à luta nas imediações da capital.
Mesmo assim, a meio da tarde chegaram os reforços Inimigos em peso, e retomaram à força as partes controladas pela milícia. Um a um, os milicianos caiam, alguns deles a explodir consigo próprios.
Pouquíssimos milicianos sobreviveram ao ataque e ainda menos conseguiram escapar.
O final da Guerra aproximava-se. As milícias haviam feito o seu trabalho o melhor que podiam. Apenas restava o sentimento de vingança cega, louca e indiscriminada. Não seria sem cicatrizes que eles ganhariam a Guerra.
E verdadeiramente não foi. A capital Inimiga ardia e fedia a morte.
Nunca encontraram o corpo do Prego.